Cineclube MIS




Criado em 2004, o Cineclube MIS é um espaço de exibição de filmes gratuito oferecido pelo Museu da Imagem e do Som do Ceará. Em outubro de 2009 retomou suas atividades, agora com mostras trimestrais e exibições quinzenais. Antes do filme, o MIS oferece um lanche, favorecendo o encontro dos cinéfilos e discussões descontraídas.

Mostra Chris Marker

“O cinema de Marker é apenas partidário da poesia. Ele legitima formas de olhar e de flagrar cenários que foram apropriados pela cinematografia contemporânea. As ruas de Tóquio – cidade emblema de uma civilização em colapso imagético – com seus trens cortando a tela emoldurada por edifícios feios e cinzentos em contraponto aos passageiros adormecidos que se encontram nos vagões são tão atuais quanto os negros filmados em afazeres cotidianos num porto de pequenas embarcações no litoral da África.
A diferença é que para Chris Marker essas imagens colhidas ao vivo, talvez, mais do que um depositário de informações referenciadas, servem para assinalar, ao mesmo tempo, os contrastes do mundo e também revelar o fascínio melancólico por paisagens pitorescas que assalta qualquer viajante em busca de sentidos para suas vidas. Sob este prisma as significações por ele sugeridas são evidentemente complexas. Partem da superfície do que nos é mostrado e mergulha nas sensações as quais se confundem com suas próprias inquietações e dúvidas. Ele é como o protagonista de La Jetée, mergulhado entre lembranças e premonições, querendo apreender o instante da confluência do passado com o presente e o porvir.” (Alexandre Figueirôa em O Passageiro do Tempo)

Julho
13 - Carta da Sibéria (1957, Cor, 62’)

Em Carta da Sibéria, Marker a princípio parece querer nos falar sobre esta vasta região russa. Mas, aos poucos, vemos que suas intenções são mais teóricas e reflexivas do que propriamente documentais. Em um conhecido momento do filme, Marker nos mostra a mesma cena três vezes, no qual a narração assume três posições diferentes a respeito da imagem que vemos. A primeira, pró-soviética, a segunda contrária e a, terceira, mais "neutra". Com isso, Marker coloca em cheque a confiabilidade da imagem, mostrando que ela pode servir para qualquer propósito que seja. A imagem pode não mentir, mas ela também não objetiva nada. Com isso, o filme de Marker toma ares mais experimentais que propriamente documentais, inserindo desenhos, um comercial sobre renas e comentários pessoais.

27 - La Jetée (1962, P&B, 28’)
Ceci est l'histoire d'un homme marqué par une image d'enfance. Com este intertítulo explicativo começa La Jetée, "filme de ficção científica feito com imagens fixas, à exceção de um único movimento". O filme narra a aventura de um sobrevivente da Terceira Guerra Mundial que vive como prisioneiro nos subterrâneos de uma Paris destruída. Esse homem guarda lembranças de uma infância feliz na superfície, em tempos anteriores à guerra, quando costumava ser levado pelos pais para admirar os aviões no aeroporto de Orly. La Jetée: a imagem obsedante. Numa dessas idas ao aeroporto, quando criança, ele vê um homem ser assassinado. Em virtude dessas lembranças, cientistas do pós-guerra o escolhem como cobaia para experiências de viagem no tempo. Como a superfície do planeta foi devastada pela guerra e pela radioatividade, a humanidade vive reclusa no subsolo e com parcos recursos. A única saída para um renascimento da civilização estaria no sucesso das viagens no tempo e na mobilização de conhecimento e fontes de energia advindas desse artifício. Depois de alguns viajantes do tempo não terem sobrevivido ou acabarem loucos, o protagonista de La Jetée será o homem mais apto a reverter em sucesso essa empresa.

Agosto
10 - O Mistério de Koumiko (1965, Cor, 54’)

Marker viaja pela primeira vez ao Japão com a intenção de realizar um documentário sobre as olimpíadas (Tokyo 64), e conhece na rua uma jovem, Koumiko Muraoka (na realidade amiga dos ajudantes da produção), que se transforma na protagonista do filme. Segue-a com a câmera pela cidade e se detém em suas expressões e gestos. Através das conversas e de uma gravação que Koumiko envia para Marker, com as respostas de um questionário que ele deixou para ela, o filme destila elementos de sua identidade (feminina, japonesa) e expõe as contradições do Japão contemporâneo, ao um só tempo ocidentalizado e preso a suas tradições.

24 - Sem Sol (1983, Cor, 100’)
Se você acredita que um filme é mais do que uma história contada com começo, meio e fim, então não deve deixar de conhecer Sem Sol, um belo exemplar do cinema de ensaio, misto de documentário e indagação estético-filosófica que se tornou a marca registrada de Chris Marker. Em Sem Sol, acompanhamos num transe quase hipnótico a narração das cartas de um cameraman que viaja pelo mundo. Do Japão à Guiné Bissau, da Islândia aos Estados Unidos (a São Francisco de Um Corpo que Cai), ficamos atônitos diante da elegante meditação sobre o tempo e a memória tecida por Marker.

Setembro
07 - 2084 (1984, Cor, 10’)

Neste pequeno filme, Marker critica, sob uma perspectiva socialista, o papel do movimento sindical na França em pleno alvorecer da era da economia global. Ele argumenta que os sindicatos são submissos à sociedade, e não o contrário, e que o século passado será visto como um período transitório no qual a barbárie foi uma tática comumente utilizada.

21 - Um dia na vida de Andrei Arsenevitch (2000, Cor, 55’)
Documentário sobre a vida do genial Andrei Tarkovsky, mostrando seus últimos dias de vida e reflexões sobre suas obras.

Serviço: Museu da Imagem e do Som do Ceará – MIS
Avenida Barão de Studart, 410 – Meireles
(85) 3101.1204
(85) 3101.1207
Às terças-feiras, 19 horas.

Comentários